Uma obra que deveria transformar a paisagem urbana de Porto Calvo e impulsionar o turismo regional tornou-se motivo de indignação e frustração para moradores, empresários e visitantes da histórica cidade do Norte de Alagoas. Trata-se da Orla Lagunar do Rio Manguaba, um projeto orçado em mais de R$ 5 milhões, lançado em 2022 com grande repercussão pela prefeita Eronita Sposito (MDB), afilhada política do deputado estadual Dudu Ronalsa.
Atualmente, o que se vê no local é o retrato do abandono: um muro parcialmente erguido, entulhos e pedras espalhadas sobre a vegetação e nenhuma atividade no canteiro de obras. Moradores da Rua do Varadouro, no bairro Centro, afirmam que a obra está parada há mais de dois anos. A ausência de trabalhadores e a falta de sinalização sobre a execução do projeto reforçam o sentimento de descaso.
O Ministério Público de Alagoas (MPAL), por meio do promotor Rodrigo Soares, recebeu denúncia formal sobre a situação e instaurou um procedimento para investigar o caso. A falta de transparência também chamou a atenção das autoridades. No local, não há nenhuma placa com informações básicas exigidas por lei, como o valor total da obra, empresa responsável, prazo de execução ou fonte de recursos. A única sinalização visível é uma licença ambiental emitida pelo Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA), que está prestes a vencer.
A Orla Lagunar do Rio Manguaba foi anunciada como um marco para o fortalecimento do turismo fluvial, com a proposta de diversificar as opções além do tradicional turismo de sol e mar. A expectativa era de integrar o projeto à valorização do Fortim Bass, único forte em terra do Brasil restaurado, com grande valor histórico e cultural, cuja revitalização foi realizada em 2019 durante a gestão do ex-prefeito David Pedrosa.
No entanto, o abandono da obra tem provocado reações no setor turístico da Costa dos Corais, que lamenta a perda de um equipamento estratégico para ampliar o fluxo de visitantes. Com a paralisação, o acesso ao Fortim Bass se tornou ainda mais difícil, afastando turistas e impactando negativamente a economia local.
Apesar das cobranças públicas e da investigação em andamento, até o momento a Prefeitura de Porto Calvo não apresentou explicações claras. A equipe de reportagem tentou contato com a assessoria de comunicação do município, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria.
A relação política da prefeita Eronita Sposito com o deputado estadual Dudu Ronalsa também levanta questionamentos sobre a origem dos recursos e a articulação política que viabilizou a obra. A população cobra transparência, responsabilização e, acima de tudo, o cumprimento da promessa de desenvolvimento que até agora não saiu do papel.
O Ministério Público segue apurando o caso. Enquanto isso, o povo de Porto Calvo continua esperando por respostas — e por dignidade na aplicação dos recursos públicos.