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O Paradoxo do "Doutor": A banalização do diploma de comunicação em Alagoas

Por Junior Calheiros
Publicado em 21/10/2025 às 22:58
O Paradoxo do "Doutor": A banalização do diploma de comunicação em Alagoas

Em Alagoas, como em todo o Brasil, vivemos a era da creator economy. O marketing digital deixou de ser uma opção para se tornar uma exigência de sobrevivência para qualquer negócio. O problema é que, na pressa de "estar online", banalizamos a profissão. Criamos uma legião de supostos especialistas que, armados apenas com um celular e um aplicativo de edição, se autointitulam "filmmakers" ou "social media" – e o mercado, por incrível que pareça, está comprando.

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A banalização não é apenas sobre a "dancinha" no Reels ou o vídeo "cinematográfico" que ignora o básico da captação de áudio. A questão é mais profunda e revela uma contradição gritante no mercado alagoano: o paradoxo dos profissionais liberais.

Vamos pegar o exemplo mais claro: o da advocacia.

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Um advogado passa, no mínimo, cinco anos em uma universidade (UFAL, CESMAC, UNIT, etc.). Depois, enfrenta uma das provas mais difíceis do país, a da OAB. Ele preza pelo seu diploma, pelo seu notório saber jurídico. Ele tem um código de ética rigoroso e não pode, em hipótese alguma, exercer sua profissão sem essa chancela. O mesmo vale para o médico com seu CRM ou o engenheiro com seu CREA.

No entanto, esse mesmo "doutor", que valoriza tanto a própria formação, é frequentemente o primeiro a desvalorizar a formação alheia.

Quando se trata de contratar alguém para cuidar do ativo mais precioso do seu escritório – sua imagem pública e captação de clientes –, o critério do diploma de comunicação desaparece. O "doutor" não procura uma agência com publicitários formados ou um profissional de Relações Públicas. Ele contrata "o menino que faz uns vídeos legais", o "sobrinho que entende de Instagram" ou a "agência" de um homem só que promete milagres por um valor irrisório.

Ao fazer isso, esses profissionais que deveriam ser a elite intelectual do mercado dão um recado claro: para eles, Comunicação Social, Publicidade e Propaganda ou Jornalismo não são áreas técnicas que exigem quatro anos de estudo em semiótica, planejamento de mídia, gestão de marca (branding) e marketing estratégico. Para eles, é apenas "mexer em rede social".

Qualquer pessoa com um celular hoje pode fazer um vídeo. Isso é fato. Mas ser "filmmaker" não é sobre apertar o REC; é sobre roteiro, iluminação, narrativa e edição. Ser "social media" não é sobre agendar posts bonitinhos; é sobre análise de métricas, funil de vendas, SAC 2.0, gestão de crise e construção de persona.

A consequência dessa banalização em Alagoas é um mercado predatório, nivelado por baixo. Profissionais formados, que investiram dezenas de milhares de reais em sua educação, são forçados a competir com amadores que cobram "baratinho" e entregam um serviço que, muitas vezes, mais prejudica a imagem do cliente do que ajuda.

A culpa não é da tecnologia, que democratizou as ferramentas. A culpa é do contratante que, por uma falsa economia, prefere o amadorismo conveniente ao profissionalismo estratégico. O "barato", no marketing, quase sempre sai caro. E em Alagoas, está saindo caro para a reputação de toda uma classe de comunicadores qualificados.